RELIGIOSIDADE TRADICIONAL IORUBÁ 

(Ìṣẹ̀ṣe/Ẹ̀sìn Òrìṣà Ìbílẹ̀)

 

*Yèyé Ọ̀ṣun Àgbáyé (Suprema Sacerdotisa de Ọ̀ṣun no Mundo) e demais sacerdotisas de Ọ̀ṣun no Festival Anual de Ọ̀ṣun em Òṣogbo, Ọ̀ṣun State, Nigéria...

 

Ìṣẹ̀ṣe, Ìṣẹ̀ṣe Làgbà, Ìṣẹ̀ṣe Àgbáyé, Ẹ̀sìn Àbáláyé Yorùbá, Ẹ̀sìn Ìbílẹ̀ Yorùbá, Ẹ̀sìn Òrìṣà Ìbílẹ̀ ou Rìlíjìọ́nù Àbáláyé Yorùbá são denominações dadas a Religião Tradicional Iorubá, embora, a mais comumente utilizada seja Ìṣẹ̀ṣe, que possui o significado de primordialidade, espiritual e material.

 

É uma religião ancestral praticada desde os primórdios, há milênios, quem engloba manifestações e fundamentos culturais, sociais e religiosos de um país da África Ocidental, chamado Nigéria.

 

O Ìṣẹ̀ṣe possui ensinamentos, práticas e rituais que organizam a estrutura das sociedades nativas nigerianas, permitindo também, concepções próprias a respeito de Deus e do Universo em geral. Porém, mesmo dentro de uma mesma comunidade, cidade ou estado, podem existir pequenas divergências em relação às concepções a respeito do sobrenatural.  É uma tradição religiosa que em quase nada foi influenciada pelas religiões surgidas depois, como o Islamismo e o Cristianismo. Pelo contrário, assim como no Brasil, muitos mulçumanos e cristãos vão à procura de sacerdotes da Religião Tradicional Iorubá para se “cuidarem espiritualmente”, sacerdotes como os Bàbáláwo (adivinhos, detentores dos segredos de Ọ̀rúnmìlà) por exemplo. É uma religião que além de praticado fortemente na Nigéria, muito vem sendo praticada e difundida em países da América, Ásia e Europa.

 

O Ẹ̀sìn Àbáláyé Yorùbá é uma religião completamente étnica e tribal, por mais que sua base seja única, possui também suas diferenças, variando seus costumes e liturgias de acordo com cada etnia e tribo.

 

A Religião Tradicional Iorubá prega a existência de uma divindade de enorme grandeza, que governa a Terra e é chamada de Olódùmarè, que equivale ao Deus/Alá/Jeová dos outros povos. Este criou a raça humana e governa a Terra (chamada pelos iorubas de Ilé Ayé ou Àiyé) com o auxílio de outras divindades, chamadas Imọlẹ̀ (popularmente conhecidas no Brasil como Orixás). Cada divindade destas possui seu corpo sacerdotal, que através de comunidades (casas, templos, conventos, sociedades) preservam e difundem seus cultos. Ao contrário do Brasil, onde inúmeras divindades passaram a ser cultuadas em um mesmo templo, na Nigéria as divindades são cultuadas cada uma em seus respectivos templos ou sociedades. Existindo em cada cidade nigeriana, os respectivos templos de cada divindade. Contudo, cada divindade possui seu templo principal na cidade de sua origem, por exemplo, o principal templo de Ṣàngó encontra-se em Ọ̀yọ́, o principal templo de Ọ̀ṣun encontra-se em Òṣogbo, o principal templo de Yemọja localiza-se em Abẹ́òkúta, o principal templo de Ọ̀rúnmìlà encontra-se em Ilé Ifẹ̀ e assim por diante. Quando existem pessoas que devem ser iniciadas no culto de uma determinada divindade e não existe um templo da divindade em questão na cidade natal da pessoa, a mesma é encaminhada ao templo mais próximo desta divindade no país (Nigéria).  Com toda esta recriação da religião no Brasil, esta não teve apenas percas, mas ganhos também, o ato de cultuarmos várias divindades em um mesmo templo, por exemplo, facilitando para os iniciados e devotos das diversas divindades.

 

A cidade de Ilé Ifẹ̀ é considerada pelos iorubás o lugar de origem das suas primeiras tribos, dos seus ancestrais primordiais e principalmente das suas divindades. Ifẹ̀ é o berço da Religião Tradicional Iorubá, é um lugar sagrado, onde as divindades (Orixás) chegaram, criaram, povoaram o mundo e depois ensinaram aos mortais como as cultuar.

 

Os iorubás tradicionais seguem um calendário lunar com semanas de apenas quatro dias (ọjọ́ Ọbàtálá, ọjọ́ Awo, ọjọ́ Ògún, ọjọ́ Jàkúta), nos quais cultuam suas divindades.

No Ọjọ́ Ọ̀sẹ̀ (Ọjọ́ Ọbàtálá), Dia de Ọbàtálá, dia em que rendem homenagem às divindades primordiais, criadoras, os Funfun, cultuam Ọbàtálá (primogênito de Olódùmarè, o criador da raça humana, senhor de todos os Òrìṣà [Imọlẹ̀ funfun]), Yemòó (esposa de Ọbàtálá, divindade dos búzios e da prosperidade), Èṣù (suprema divindade organizadora do Universo e senhor do àṣẹ), Òrìṣà Òkè (divindade das montanhas), Egúngún (divindade que faz a nossa ligação com os nossos ancestrais masculinos), Orò (ancestral primordial) e Agẹmọ (divindade representada pelo camaleão, a primeira a caminhar sobre a Terra com seus descendentes).

 

No Ọjọ́ Awo (Ọjọ́ Ọ̀rúnmìlà), Dia do Segredo, dia em que rendem homenagem às divindades da sabedoria e detentoras dos segredos. Cultuam Ọ̀rúnmìlà (divindade da sabedoria e testemunha dos destinos), Òdù (Odùlógbòjé, primeira esposa de Ọ̀rúnmìlà, mãe dos Odù), Ẹ̀là (divindade da luz), Ọ̀ṣun (divindade da maternidade), Ọ̀sanyìn (divindade da magia e detentora dos segredos das folhas), Olókun (a poderosa e riquíssima divindade dos mares), Yemọja (divindade dos rios e protetora das cabeças). Algumas tradições também cultuam Èṣù e Òṣùmàrè Ẹ̀gọ̀ no ọjọ́ awo.

 

No Ọjọ́ Ògún, Dia do Guerreiro, dia em que rendem homenagem as divindades guerreiras e caçadoras, cultuam Ògún (patrono de todos os caçadores e divindade do ferro), Ọ̀ṣọ́ọ̀sì (divindade caçadora que protege contra as feiticeiras), Ìja (divindade da família de Ògún), Erinlẹ̀ (caçador originário de Ìlóbùú) Ọ̀tìn (divindade feminina, caçadora e valente), Òrìṣà Oko (divindade funfun da fazenda e da agricultura, grande caçador).

 

No Ọjọ́ Jàkúta (Ọjọ́ Ṣàngó), Dia do Mortífero atirador de pedras, rendem homenagens às divindades Ṣàngó (divindade do trovão), Ọya (divindade dos ventos e tempestades, uma das esposas de Ṣàngó), Baáyànnì (divindade da família de Ṣàngó), Ṣọ̀npọ̀nná (divindade da terra, das doenças e epidemias), Nàná Bùkúù (antiga divindade da morte e esposa de Ṣọ̀npọ̀nná) e Òṣùmàrè Ẹ̀gọ̀ (divindade do arco-íris e da riqueza).

 

De todos os cultos africanos, foi e é o mais influente no Brasil, falando religiosamente é claro.  A primeira vez que este veio ao nosso país, foi em meados do século XVIII, com a vinda de escravos africanos de origem nàgó (yorùbá, ìjẹ̀ṣà, ẹ̀gbá, etc.), através do tráfico escravista. Chegando aqui, pela diferença cultural, o mesmo teve que ser readaptado às nossas terras e a cultura existente, nascendo então o Candomblé, um CULTO AFRO-BRASILEIRO (RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA). Assim sendo, muito desta tradição religiosa perdeu-se e muito de outras culturas religiosas foi agregado a esta, originando o Candomblé que hoje conhecemos. O Ìṣẹ̀ṣe é a religião que deu origem a novas religiões criadas no novo mundo, como a Santeria em Cuba e o Candomblé no Brasil.

 

Mas na década de 80, alguns nigerianos que vieram ao Brasil através do intercâmbio estudantil e também alguns brasileiros sacerdotes de Candomblé, começam o resgate da Religião Tradicional Iorubá em nossas terras, trazendo ao Brasil sacerdotes oriundos da Nigéria. E esta extraordinária religiosidade retorna à nossa terra e hoje, diferente da primeira vez, podemos ter o livre arbítrio e o privilégio de cultuar as divindades iorubás como estas eram e são cultuadas em sua terra natal, a Nigéria.

 

Atualmente, podemos encontrar espalhadas pelo Brasil diversas casas de culto que praticam o Ẹ̀sìn Àbáláyé Yorùbá (Ìṣẹ̀ṣe). Essas casas (templos) seguem as mais variadas tradições religiosas, oriundas de cidades como Abẹ́òkúta, Ìbàdàn, Ọ̀yọ́, Òṣogbo, Ilé Ifẹ̀, etc.

 

Bom, este foi apenas um pouco do que é esta esplêndida e profunda religião, que a cada dia que assa, mais e mais devotos vem congregando em nossas terras (Brasil). Infelizmente, ainda muito mal interpretada por alguns, entretanto, muito amada por outros, por sua simples e ao mesmo tempo profunda ritualística, pelos seus ensinamentos de moral e conduta e principalmente pelas suas magníficas divindades. Espero que através desse artigo eu possa incentivar aos leitores a busca de mais conhecimentos sobre essa extraordinária religião – Ìṣẹ̀ṣe/Ẹ̀sìn Àbáláyé Yorùbá.

 

Àṣẹ à todos!!!

 

Por Hérick Lechinski (Ejòtọ́lá)

 

*Este foi um artigo publicado por Hérick Lechinski, na revista online FALANDO DE AXÉ, em março de 2011, reescrito para o website Ìṣẹ̀ṣe/Ẹ̀sìn Àbáláyé Yorùbá.

 

RESPEITE O AUTOR

Todos os Direitos Reservados a Hérick Lechinski.

Amparado pela Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Proibido a cópia total ou parcial deste texto por qualquer meio, seja para uso privado ou público, com ou sem fins lucrativos sem a autorização prévia do autor.


Crie um site grátis Webnode