"Cultuar Ọ̀bàrà no dia 06/06, certo ou errado?"
06/06/2013 13:29

É uma tradição de inúmeras Casas de Candomblé (Ilé Àṣẹ) e seus adeptos, fazerem festas, homenagens e oferendas para Ọ̀bàrà méjì (Odù), todo ano no dia 06/06.
Mas pergunto a todos estes que realizam essas “comemorações”, de onde veio esta tradição, qual é a origem dela?
Isso é certo ou errado?
Para podemos chegar a uma explicação conclusiva se isso é correto ou não, temos antes que ter o conhecimento de alguns temas. O primeiro deles o que é ou são Odù’s?
Odù’s são “signos” de Ifá. São “capítulos” de uma Tradição Oral Nigeriana, chamada e conhecida por IFÁ. Em alguns ìtàn’s (relatos antigos, sagrados e orais desta Tradição Cultural) esses Odù’s são personificados, mas é algo simplesmente simbólico, e acredito-me, é o que gerou a grande confusão na cabeça de algumas pessoas (alguns sacerdotes e adeptos do Candomblé), que passaram a acreditar que os Odù’s são Divindades, assim como os Òrìṣà. E no Brasil, criou-se o hábito de “assentar” os Odù’s, principalmente Ọ̀bàrà (por acreditarem que o mesmo traz riqueza e prosperidade), fazer oferendas, festas e etc., há alguns Odù’s que certos sacerdotes dizem que é até melhor “despachar”. Mas temos que deixar claro que: essas concepções são totalmente ERRÔNEAS.
- Odù’s não são Divindades iguais aos Òrìṣà.
- Não se “assenta” Odù’s, assim como se “assenta” os Òrìṣà.
- Não devemos alimentar Odù’s, muito menos despacha-los.
Outra coisa, os Odù’s são em um total de 256, 16 primários (Mẹ́rìndínlógún Odù Àgbà) e 240 secundários (Ọmọ odù) e nosso Ano possui apenas 12 meses, e ai?
Como fazemos?
Só festejaremos até o 12º Odù?
Bem complicado isso né?
Para deixar mais complicado ainda e mostrar que essa comemoração é infundada, vamos lá, Ọ̀bàrà (méjì) na ordem de senioridade de Ifá, ocupa o 7º lugar e não o 6º, então, se realmente existisse uma comemoração para o mesmo, algo que não existe dentro de sua tradição original, o mesmo deveria ser comemorado no sétimo mês do ano e não no sexto.
E mesmo assim, continua a pergunta, se são 256 Odù’s e apenas 12 meses, como faríamos com os outros?
A resposta mais tradicional para essa pergunta é: NÃO FARIAMOS. Não festeja se ou comemora-se Odù.
Odù’s são também configurações oraculares, utilizadas nos oráculos sagrados dos Iorubás e dos Fons, em oráculos como Ikin Ifá, Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá e Mẹ́rìndínlógún Ifá (Jogo de Búzios).
Ọ̀bàrà (Méjì) não é apenas o Odù da prosperidade, é também o Odù que fala de mentira, traição, miséria, inveja, e outras negatividades. Através deste “signo”, se assim podemos descrever, falam inúmeros òrìṣà, como Èṣù, Ọbàtálá, Ṣàngó, Ọ̀ṣọ́ọ̀sì, etc., então, o que seria correto é alimentarmos estes Òrìṣà, dentro deste Odù, ou seja, pelas indicações deste Odù. Isso é o correto de acordo manda a tradição original.
As pessoas que fazem oferendas e festas a Ọ̀bàrà, estão na verdade alimentando Èṣù e algumas vezes Ọ̀ṣọ́ọ̀sì. E dizendo que é Ọ̀bàrà.
Se o leitor for até alguma Casa de Religião Iorubá (Ìṣẹ̀ṣe) ou Religião Afro-brasileira (Candomblé) e falarem que você deve assentar Ọ̀bàrà para ter prosperidade ou dar oferendas para o mesmo, procure outra casa, com certeza o sacerdote desta casa não conhece o que é Ọ̀bàrà. Existe sim, oògùn (magias, medicinas, preparados) que são feitos dentro deste Odù e ficam em nossa casa para que nos gere prosperidade, mas não são assentamentos (Ojúbọ, Àmì Òrìṣà), são oògùn (medicinas, magias, amuletos).
Bom caro leitores, acredito que depois desta explanação, podemos concluir perfeitamente que: NÃO COMEMORA-SE Ọ̀BÀRÀ no dia 06/06 (Seis de Junho). Ọ̀bàrà não é uma Divindade, também não é um Èṣù. Ọ̀bàrà é um “signo” de Ifá. Uma configuração oracular. O capítulo de uma Tradição Oral Iorubá, que narra inúmeros mitos antigos (ìtàn’s).
Espero com este pequeno artigo, ter contribuído para a finalização deste costume infundado existente no CULTO A ORIXÁ NO BRASIL.
*Artigo de minha autoria, publicado na Revista (online) Falando de Axé, Edição Maio e Junho de 2012.
Por Hérick Lechinski (Ọlọ́jòlá Ejòtọ́lá)
RESPEITE O AUTOR
Todos os Direitos Reservados a Hérick Lechinski.
Amparado pela Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Proibido a cópia total ou parcial deste texto por qualquer meio, seja para uso privado ou público, com ou sem fins lucrativos sem a autorização prévia do autor.