"A História de Ifá no Brasil"
23/05/2014 15:40

Bom, como hoje em dia ser Bàbáláwo/Ìyánífá (Sacerdotes de Ifá) e Olúwo (chefe de um Egbé Ifá) no Brasil tornou-se moda, já que, muitos adoram sair por ai falando que são “Ifáístas”, enquanto outros estão cometendo a bobagem de falar que o culto a Ifá no Brasil é “novo”. Resolvi, de acordo com meus parcos conhecimentos, falar um pouco do que sei a respeito da “história do culto a Ifá” no Brasil.
Ifá é um dos nomes pelo qual é conhecida a Divindade (Imọlẹ̀) Ọ̀rúnmìlà (Aránímọyá), este título do mesmo se dá ao fato de ele ter sido o criador do oráculo sagrado (iorubá) denominado IFÁ (oráculo que se utiliza de coquinhos de dendê).
Assim como alguns (Ògún, Ṣàngó, Ọya, Ọ̀ṣun, Obà, Ọlọ́ògùn Ẹdẹ, Ọbalúayé, Nàná, Yèmọja, Òṣàlá, etc.) dos inúmeros Imọlẹ̀ (conhecidos no Brasil como Orixás) cultuados na Nigéria, Ọ̀rúnmìlà (seu culto) também veio para o Brasil na época do tráfico escravista, e sem dúvidas, as matriarcas fundadoras do Candomblé de nação Kétu no Brasil o conheciam, já que, alguns Bàbáláwo yorùbá as ajudaram a estruturar o Candomblé, e recriar o culto a Imọlẹ̀ (Orixá) no Brasil. Isso é fato, e qualquer um que conheça a história do Candomblé com profundidade poderá comprovar isso. Então, falar que o Culto a Ifá no Brasil tem pouco mais de 20 anos é bobagem, pura ignorância. Ifá no Brasil tem mais 100 anos.
Mas o que fez com que o culto a Ọ̀rúnmìlà-Ifá não “vinga-se” (se assim podemos dizer) no Brasil, como vingou o de alguns outros Orixás?
Os Bàbáláwo que aqui viviam, como Bàbá Ọ̀ṣúntadé (José Firmino dos Santos, fundador do Àṣẹ Ọlọ́ròkè, Casa Matriz do Candomblé Nação Ẹ̀fọ̀n no Brasil), Bàbá Bámgbóṣé (Rodolfo Martins de Andrade, um dos fundadores do Àṣẹ Òpó Àfònjá, uma das Casas Matrizes do Cadomblé Nação Kétu no Brasil), dentre outros, diferente de muitos nigerianos que vem ao Brasil nos dias de hoje, não viam o Culto a Ifá como uma maneira de ganhar dinheiro, e sim, uma maneira de corrigir e aperfeiçoar o destino e a preservação de uma Cultura (Iorubá) milenar, além de, terem a consciência que o Culto a Ifá no Brasil precisaria de uma RICA ESTRUTURA e MUITOS ANOS DE ESTUDO POR PARTE DOS INICIADOS, para que então pudessem ser capacitados sacerdotes (bàbáláwo/ìyánífá) dentro deste culto e consequentemente os mesmos darem continuidade ao culto em nosso país. E por possuírem esta consciência, respeito e amor por Ọ̀rúnmìlà, chegaram à conclusão que Ifá deveria ficar restrito a poucos, seus descendentes e os muito chegados, e com o tempo Ifá “desapareceu”, ou melhor, adormeceu no Brasil.
Com o passar dos anos, e através do intercâmbio cultural realizado em nosso país, alguns nigerianos e cubanos adeptos de Ifá puderam vir ao Brasil e consequentemente acabaram por fazer com que Ifá e o seu culto acordasse, surgisse novamente em nossas terras. Este resurgimento do Ifá começou a acontecer a partir da década de 80. Com a vinda de Bàbá Ifáyẹmí Ẹlẹ́buìbọn (atual Àràbà de Òṣogbo) ao Brasil em 1983, mais precisamente a cidade São Paulo. Bàbá Síkírù Sàlámì (Profº Dr. King) que passou a residir no Brasil também em 1983. E também através de Bàbá Adémọ́lá Adésọjí, que residiu no RJ por alguns anos. Estes foram os precursores no RESURGIMENTO do Culto a Ifá (Nigeriano) no Brasil. Bàbá Ifáyẹmí Ẹlẹ́buìbọn e Bàbá Síkírù Sàlámì em São Paulo e regiões e Bàbá Adémọ́lá Adésọjí no Rio de Janeiro e regiões.
Em 1989, Bàbá Síkírù Sàlámì traz ao Brasil, na cidade se São Paulo, pela primeira vez, o Bàbáláwo Fábùnmi Ṣówùnmí, da Cidade de Abẹ́òkúta, no estado de Ògún, Nigéria. No ano seguinte (1990), Bàbá Fábùnmi retorna ao Brasil e então realiza as suas primeiras iniciações em Ifá (tradição Nigeriana) aqui em nosso país. E a partir disso, Bàbá Síkírù vem propagando o Ifá Nigeriano em nosso país até os dias de hoje.
Em 22 de março de 1992, Rafael Zamora Diaz, Bàbáláwo Cubano, realiza na cidade do RJ, suas primeiras iniciações em Ifá (Ifá tradicional Cubando) em terras brasileiras, e assim passou a disseminar o Culto a Ifá (tradição Cubana) no Brasil.
E depois disso, com o passar dos anos, inúmeros nigerianos, cubanos e beninenses começaram vir ao Brasil e formarem suas “famílias” de Ifá. Tirando aqueles brasileiros que viajam até a Nigéria, Cuba ou Benin para serem iniciados em Ifá.
E hoje em dia, com a maior alegria, podemos dizer: O culto a Ọ̀rúnmìlà-Ifá encontra-se desperto no Brasil. Ao alcance de todos aqueles que desejem corrigir ou aprimorar o seu destino e também aprender e preservar a cultura de um povo tão magnífico como os iorubás.
Mas o que não podemos fazer é misturar tradições, nigeriana, cubana, beninense, etc.. A pessoa que é iniciada em Ifá cubano e depois passa para o Ifá nigeriano, ou vice e versa, tem que possui consciência que esta trocando de cultos, com regras, tradições e maneiras diferentes e não misturar as coisas e ainda confundir mais a cabeça daqueles que estão buscando seguira a religião de maneira correta.
Gostaria de finalizar este artigo, não parabenizando, mas agradecendo ao mesmo, pela sua propagação do Ifá no Brasil, e o mais importante, de maneira correta, e que mesmo possuindo mais de 2500 pessoas iniciadas em Ifá em sua Ẹgbẹ́, por sacerdotes idôneos, nunca deu o título de Bàbáláwo para nenhum brasileiro. Bàbá Síkírù Sàlámì mo dúpẹ́. Eu o agradeço.
E para aqueles que buscam títulos e para aqueles que já possuem os seus dentro do Culto a Ifá, eu apenas desejo-os boa sorte...
Ifá ensina: “Quando minha cabeça não me vende, nada me compra...”
Espero através deste artigo, de alguma forma, ter contado um pouco da história do Ifá no Brasil, e deixar claro que o mesmo está entre nós desde o tempo escravista no Brasil, e hoje, podemos contar com três tradições de Ifá no Brasil: a Nigeriana, a Cubana e a Beninense. Cada uma com suas peculiaridades, tradições que NÃO devem ser misturadas JAMAIS.
Àbọrú bọyè Ọ̀rúnmìlà Àgbà Ifá
Àbọrú bọyè Àràbà Àgbáyé.
Àbọrú bọyè gbogbo Àràbà.
Àbọrú bọyè gbogbo Àgbà Awo.
Àbọrú bọyè gbogbo Olúwo.
Àbọrú bọyè gbogbo Bàbáláwo àti Ìyánífá.
Àbọrú bọyè gbogbo Awo.
Kí Ifá ogbó atọ́ fún gbogbo àwa.
Por Hérick Lechinski (Ọlọ́ṣùmàrè Ejòtọ́lá)
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