Ọ̀ṣun - A Senhora das Águas da Vida

*Òrìsà Òsun, pintura do artista Carybé, fonte Internet

 

"...Oxum, senhora das águas que fluem suavemente.
Oxum, graciosa mãe, plena de sabedoria!
Que enfeita seus filhos com bronze.
Que fica muito tempo no fundo das águas gerando riquezas.
Que se recolhe ao rio para cuidar das crianças.
Que cava e encava a areia e nela enterra dinheiro.
Mulher poderosa que não pode ser atacada..."

 

É na Nigéria, mais precisamente em Òsogbo, no Estado de Òsun, que corre o Rio Òsun, lugar de origem, culto e homenagem a Grande Divindade (Irúnmolè) regente das águas doces e dos nascimentos (Crianças). Filha de Yèmoja (Nasce no Odù Òsér’ogbè) é Òsén’ibùomi (Òsun), Aquela que nasce da profundeza das águas, Aquela que flui com as águas.

Òsun foi rainha (Ìyába) em Òsogbo e em algumas outras cidades Iorubá, onde em cada uma recebeu um título e passou a ser cultuada de uma forma. Foi esposa de diversas divindades, dentre elas Sàngó, Ògún, Òsóòsì, Òrúnmìlà e segundo algumas fontes, até do próprio Obàtálá (Òsàlá). É considerada Mãe de Ológùn Ede, o Poderoso Feiticeiro de Ede, filho que teve com Ode Òsóòsì segundo alguns e com Ode Erinlè, segundo outros.

 

Seu culto veio para o Brasil através de escravos Ìjèsà, e no Brasil, Òsun passou a ser cultuada como a Senhora de todas as águas doces, rios e cachoeiras. Deusa do amor e do ouro.

Uma das divindades mais cultuadas na Umbanda, no Candomblé e até mesmo na Santeria (em Cuba).

No Brasil, a mesma tem seu sincretismo afro-católico com diversas santas como: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Conceição, dentre outras.

Muito cultuada por Mães que desejam ter filhos e por pessoas que buscam um amor, a faceira Òsun é cultuada com muitas oferendas e presentes.

É também grande musa inspiradora de inúmeros cantores e compositores brasileiros, a Vênus Africana.

No Brasil, teve seu culto miscigenado ao das Minkisi Ndandalunda e Kisimbi e também com as Vodùn Azili e Tobosi.

Contando no Brasil com respeitosas sacerdotisas, como a saudosa Ìyá Menininha – Àse Gantois, a saudosa Mãe Senhora – Àse Òpó Àfònjá e a Saudosa Ìyá Nitinha – Àse Casa Branca. Òsun é a deusa coquete amada por todos, assim como foram suas filhas. Seu mais célebre Sacerdote aqui no Brasil, foi o Africano Òsuntádé (José Firmino dos Santos), Bàbálawo fundador da Casa Matriz do Candomblé de Nação Èfòn no Brasil.

 

É no Odù Òsér’ogbè que encontramos o Ìtàn que fala do nascimento de Òsun: Yèmoja desejosa de ter filhos, consulta Òrúnmìlà para saber como proceder, já que não conseguia engravidar, Òrúnmìlà consulta Ifá (o oráculo sagrado) e determina que a cada cinco dias ela deviria dirigir-se ao rio próximo a sua casa, carregando sobre a cabeça um pote pintado de branco. Deveria preparar ègbo (milho branco cozido), yánrin (refogado de uma planta popularmente conhecida como serralha no Brasil), èkuru (de inhame com dendê) e èko (pudim de milho branco). Juntar a essas comidas obì e orógbó e, antes da alvorada, levar tudo ao rio, acompanhado por um grupo de crianças cantando em coro. Ao chegarem, deveria encher o pote branco com água do rio e retornar cantando. A água seria então, despejada num pote chamado Àwè e, nos cinco dias subseqüentes, deveria ser usada para banhos diários e também para beber. Isso tornou-se um hábito e, ao chegar o dia marcado, bem cedo pela manhã, as crianças esperavam por ela à porta. Yèmoja repetiu incansavelmente essa caminhada, por longo tempo. Finalmente engravidou e mesmo assim prosseguiu com os rituais prescritos por Òrúnmìlà, sendo que tornaram-se muito cansativos à medida que a gestação progrediu. Em uma dessas manhãs, logo após entregar as oferendas no rio, sentiu uma forte dor. Chamou as crianças e disse-lhes que esperassem um pouco e então recolheu-se a um lugar escondido e ali dar a luz. Assim que ficou de cócoras, ouviu o choro de uma criança. Não precisou usar medicamento nenhum, além da água vinda do rio. E então nasce Òsén’ibùomi (Aquela que nasce da profundeza das águas), que passa a ser conhecida como Òsun (síntese do termo Òsén’ibùomi).

 

Diversos são os títulos (chamados de qualidade no Brasil) de Òsun, ou seja, os nomes pelo qual ela é conhecida e saudada, chamados pelos Iorubá de Oríkì. Ìyánlá (Grande Mãe), Rora Yèyé (Mãe Graciosa), Ìyámi Àkókó (Minha Mãe Ancestral Suprema, título que a mesma recebe na Egbé Òsòròngà), Olùtójú àwon omo (Aquela que vela pelas crianças), Aláwòyè omo (Aquela que cura crianças), Ìjùmú, Ìpòndá, Òpàrà, Lògùn e inúmeros outros.

*Òrìsà Òsun, pintura do artista André Luiz, fonte Internet

 

Òsun é saudada por seus devotos com as expressões Yèyé mi (Minha Mãezinha) ou Káre o (Você que nos proporciona felicidade).

Diversos são os ìtàn (relatos antigos e sagrados) que explicam como Òsun transformou-se no rio Òsun (Odò Òsun), na Nigéria, mas o mais conhecido é o que fala que ela ao descobrir que seu marido (Sàngó) morreu, desesperada transforma-se em um rio.

Sua ligação com Ológùn Ede é mostrada em diversos ìtàn, seja como seu filho, seja apenas como seu mensageiro. São duas divindades que são cultuadas juntas.

Foi Òsun a criadora do oráculo Mérìndínlogún Ifá (Jogo de búzios), na época em que era Apetebí (Esposa) Òrúnmìlà e foi a mesma quem ensinou às suas sacerdotisas e depois às sacerdotisas de outras divindades.

Foi Òsun também, aquela que preparou o primeiro Iniciado (Awòrìsà/Adósù) em Òrìsà .

E é da responsabilidade desta Deidade a vida das crianças enquanto ainda encontram-se no ventre de suas mães.

*Òsun, a Rainha da Vida, fonte Internet

 

Por todas essas situações fica clara a importância de Òsun na Terra (Àiyé) e no Culto a Òrìsà.

 

Seu dia de culto na Nigéria é o Ojó Awo (Dia do Segredo, primeiro dia da semana ioruba de quatro dias), no Brasil a mesma passou a ser cultuada no Ojó Àbáméta (Sábado), dia em que é cultuada junto a sua mãe, Yèmoja.

À Òsun é oferecido Okété (cerveja de milho), que no Brasil passou a ser substituído pelo vinho branco suave, Obì (nós de cola), Èko (pudim de milho branco), Yánrin (refogado de serrelha), Iyán (inhame pilado), Carne de cabra e frangas.

Senhora do cobre (ide), ouro (ìwóòrò) e bronze (àdàlú bàbà àti tánganran), é uma exímia apreciadora de jóias de cobre, ouro e bronze, foi a divindade que descobriu o cobre e o ouro na Terra, encavando rios.

Seus símbolos ritualísticos de culto são: Eta (pedras de rio), owó eyo (búzios), àwè (pote de cerâmica para água), aso funfun (pano branco), ide wéwé (pulseiras de cobre), òòyà (pentes de madeira, cobre, etc), Abèbè (leques), Ìrùkèrè (elemento símbolo de realeza), etc.

 

Na Umbanda é festejada nos meses de outubro (12/10) ou dezembro (08/12). Algumas casas de Candomblé a festejam em Maio (o mês das mães). O principal festejo de Òsun, nas casas de Candomblé Kétu do Brasil é o Ìpètè, que deu origem a uma conhecida oferenda realizada a ela a base de inhame.

Òsun é cultuada e festejada para que propicie saúde, paz e muita prosperidade a seus devotos, é também cultuada para proporcionar filhos a todos aqueles que desejam essa segunda maior riqueza do mundo.

Sua ligação com Ìyámi Òsòròngà, faz de Òsun uma divindade qual devemos ter cautela ao manipular energeticamente, é aquela que dá e assegura a vida, mas também é aquela capaz de matar, até mesmo com um copo de água (engasgado).

Òsun como Òrìsà funfun, veste-se de branco, mas no Brasil, criou-se o hábito de vestir seus iniciados de amarelo, dourado e rosa.

 

Òsun é aquela que pode proporcionar à um apaixonado devoto uma vida repleta de riquezas!

Òóré Yèyé o (Mãe da Bondade)!

 

Por Hérick Lechinski (Ọlọ́òrìṣà Ejòtọlà)