Ọ̀ṣọ́ọ̀sì, o Caçador Vigilante aclamado pelo Povo

Ọ̀ṣọ́ọ̀sì (Ọ̀ṣọ́wusì – Guarda Noturno Aclamado) é sem dúvidas uma das mais cultuadas divindades iorubas em solo brasileiro, já que, é considerado o Senhor (patrono) das Casas de Candomblé Kétu no Brasil.

 

Festejado com grande popularidade e louvor no dia 20 de janeiro, pelos devotos e adeptos da Umbanda e do Candomblé, que também o festejam no dia 23 de abril.

 

No Brasil o mesmo é a Divindade (Orixá) da Caça, da Fartura e também o Chefe dos Caçadores (Ọlọ́rí Ọdẹ), título este, que na Nigéria pertence à Ògún.

 

Em nossas terras, erroneamente Ọ̀ṣọ́ọ̀sì é considerado filho de Yèmọja e Òṣàlá (Ọbàtálá), algumas vezes de Yèmọja e Odùdúwà ou até mesmo de Ìyá Apáòká. E irmão de Èṣù e Ògún.

 

Mas ao certo não se sabe quem são os verdadeiros pais de Ọ̀ṣọ́ọ̀sì. O mesmo é considerado irmão mais novo de Ògún, pelo fato do grande relacionamento de amizade, companheirismo e lealdade existente entre os dois, pois, Ọ̀ṣọ́ọ̀sì foi o primeiro aprendiz de Ògún na arte da caça. Já com Èṣù, Ọ̀ṣọ́ọ̀sì não possui nenhum parentesco e nem relacionamento.

 

Ọ̀ṣọ́ọ̀sì é muitas vezes confundido com Ọ̀sọ́ọ̀sin (que também possui o título de Erinlẹ̀), uma Divindade Feminina, caçadora e aquática, que também foi uma das primeiras aprendizes de Ògún na arte da caça, há quem a considere uma das esposas de Ògún.

 

No Brasil fala-se muito em relação à Ọ̀ṣọ́ọ̀sì ter sido um dos Reis da Cidade de Kétu – Alákétu, inclusive, isso lhe dá grande prestígio nas Casas de Candomblé Kétu do Brasil, mas até hoje nunca vi nenhum ìtàn odù ou oríkì que comprovasse isso. Ọ̀ṣọ́ọ̀sì também é considerado por algumas pessoas o pai de Ọlọ́gùn Ẹde (Lógùn Ẹdẹ).

 

Na Nigéria, Ọ̀ṣọ́ọ̀sì é um dos grandes caçadores que o povo yorùbá já conheceu, este é cultuado junto a Ògún e a Ìja, pelas Ẹgbẹ́ Ọdẹ (Comunidades de Caçadores) das cidades, no mesmo dia de Ògún, no Ọjọ́ Ògún e seus Ojúbọ (altares, assentamentos) ficam próximos e às vezes até juntos.

 

Muitos dizem que a origem do culto a este caçador é Ìkìjà, um bairro da cidade de Ìjẹ̀bú (Oriente), no Estado de Ògún – Ògún State, na Nigéria. Outros dizem que é Ilé Ifẹ̀. Embora muitos brasileiros afirmem que o culto a Ọdẹ Ọ̀ṣọ́ọ̀sì acabou na Nigéria, isso é mentira, o mesmo continua sendo cultuado em muitas cidades nigerianas, principalmente as do Estado de Ògún.

 

O nome pelo qual Ọ̀ṣọ́ọ̀sì era conhecido antes de matar o pássaro das Àjẹ́ que pousou sob o palácio de Ilé Ifẹ̀, era Ọdẹ Ọ̀ṣọ́tọkanṣoṣo (Caçador Vigia de uma flecha só), somente depois de matar o pássaro das Ìyámi Àjẹ́ e salvar o povo de Ifẹ̀, estes então aclamaram: Ọ̀ṣọ́ wusì (Vigilante famoso/popular) e então Ọ̀ṣọ́tọkanṣoṣo passou a ser chamado de Ọ̀ṣọ́wusì e hoje Ọ̀ṣọ́ọ̀sì, o Vigilante que caminha pela esquerda.

 

Dentre seus principais títulos encontramos Igbákéjì Ògún (O Vice de Ògún), Ọdẹ Apẹran (Caçador de Animais), Aláṣọ mọ̀rìwò pààko (Aquele que se veste de mọ̀rìwo pààko), Ajàgún (Guerreiro), Ajàgúnnà (Guerreiro vitorioso, título que divide com Ògún e Akínjolé/Òṣàgiyán), etc..

 

Ọ̀ṣọ́wusì está associado à cor negra/preta (dúdú) e suas nuances como: verde escuro, azul escuro e azul turquesa.

 

Seus devotos (àwòrò) são os caçadores (Ọdẹ), principalmente os mais velhos, os iniciados no culto desta divindade (Ọlọ́de/Ọlọ́ọ̀ṣọ́ọ̀sì) e as pessoas que entram em transe desta divindade (Elégùn Ọdẹ /Ẹlẹ́gùn Ọ̀ṣọ́ọ̀sì).


Seus principais símbolos de culto são o Ọfà (Arco e flecha), Ìbọn (Espingarda de caça), Ọrun (colar/cargantilha de ferro utilizado por alguns caçadores e pelos devotos de Ọ̀ṣọ́ọ̀sì), Mọ̀rìwò pààko (Folhas novas de certa espécie de palmeira) e o Ẹ̀jùwẹ̀rẹ̀ (Instrumento feito de couro, símbolo da autoridade dos caçadores, utilizado principalmente pelo chefe dos caçadores).

 

As principais oferendas dadas à Ọ̀ṣọ́ọ̀sì são: Omi (água), Ọtí (aguardente), Epo pupa (azeite de dendê), Ajá (cachorro) Òrúkọ (cabrito), Àkùkọ (frango), Ẹyẹlé (pombo), Ẹ̀wà ọ̀ṣọ̀ṣọ̀ (feijão torrado e sem dendê), Àgbàdọ́ (milho), Àgbọn (coco) e Obì.

 

Os principais Ẹ̀wọ̀ Ọ̀ṣọ́ọ̀sì são: seus devotos, iniciados e sacerdotes não podem caçar e nem comer animais que rastejem, em especial a Cobra e também não podem jurar em falso.

 

Ọ̀ṣọ́ọ̀sì é cultuado para trazer proteção aos Caçadores, assim como Ògún, é cultuado para trazer fartura e prosperidade para dentro de nossa casa e em especial para proteger das Àjẹ́ (feiticeiras) e bruxarias.

 

É a divindade da agilidade e do pensamento rápido, dons que abençoa seus devotos.

 

No Brasil o mesmo é cultuado nos dias de quinta-feira (Ọjọ́’bọ̀) ou nos dias de terça-feira (Ọjọ́ Ìṣẹ́gun) junto a Ògún.

 

Que Ọ̀ṣọ́ọ̀sì o Caçador de uma única flecha nunca nos desampare...

 

Por Hérick Lechinski (Ejòtọlà)

 

RESPEITE O AUTOR
Todos os Direitos Reservados a Hérick Lechinski.
Amparado pela Lei nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Proibido a cópia total ou parcial deste texto por qualquer meio, seja para uso privado ou público, com ou sem fins lucrativos sem a autorização prévia do autor.